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Nobel de Química vai para três pesquisadores por 'máquinas celulares'

  • mundoquimico
  • 5 de jul. de 2017
  • 3 min de leitura

RIO — No fim dos anos 1950, numa palestra visionária, o físico americano Richard Feynman, um dos cientistas mais brilhantes do século XX, imaginou um mundo onde os avanços tecnológicos permitiriam à Humanidade manipular átomos individualmente e construir máquinas minúsculas, lançando então o conceito da nanotecnologia. E não demorou muito para esta previsão começar a se tornar realidade. Pouco mais de duas décadas depois, em 1983, o francês Jean-Pierre Sauvage conseguiu unir duas moléculas em formato de anel de maneira mecânica e não atômica, criando literalmente os primeiros elos de uma corrente molecular artificial, a que chamou de catenano. A partir daí, ele e outros pesquisadores ao redor do mundo passaram a montar nanoestruturas cada vez mais sofisticadas, inaugurando um campo que promete revolucionar áreas tão diversas quanto a medicina e a computação, o que rendeu ao próprio Sauvage, ao britânico Sir J. Fraser Stoddart e ao holandês Bernard L. Feringa, outros dois pioneiros da nanotecnologia, o Prêmio Nobel de Química de 2016, anunciado nesta quarta-feira pela Real Academia de Ciência da Suécia.


“O desenvolvimento da computação demonstrou como a miniaturização da tecnologia pode levar a uma revolução. E os laureados com o Nobel de Química de 2016 miniaturizaram máquinas, levando a química a uma nova dimensão”, destacou a Fundação Nobel no comunicado sobre a premiação, cujos 8 milhões de coroas suecas (cerca de US$ 930 mil, ou quase R$ 3 milhões) serão divididos igualmente entre os três ganhadores. “Em termos de desenvolvimento, os motores moleculares estão no mesmo estágio que os motores elétricos estavam nos anos 1830, quando os cientistas exibiam várias manivelas e engrenagens giratórias, sem saber que elas levariam aos trens elétricos, às máquinas de lavar roupa, ventiladores e processadores de alimentos. As máquinas moleculares muito provavelmente serão usadas no desenvolvimento de novos materiais, sensores e sistemas de armazenamento de energia”, concluiu a instituição.


Mil vezes menores que um fio de cabelo


De fato, afora seu tamanho extremamente reduzido, na casa dos milésimos da espessura de um fio de cabelo, os motores e ferramentas moleculares produzidos até agora são um tanto rústicos, capazes de realizar apenas trabalhos simples, como se erguer e abaixar, esticar e espremer, oscilar de um lado para outro ou girar. Mas as possibilidades futuras são praticamente ilimitadas, como mostram as nanomáquinas originais da biologia que sustentam o funcionamento de nossas células e corpos, fruto de bilhões de anos de desenvolvimento pela natureza, e modelos de inspiração confessos dos ganhadores do Nobel de Química deste ano.

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Se você observar as células de nossos corpos ou o funcionamento do organismo, é algo espantoso. É fantástico ver como este maquinário intrincado trabalha, e claro que tiramos uma grande inspiração disso — lembrou Feringa, responsável por criar, em 1999, o primeiro nanomotor artificial funcional, no qual usou uma série de truques engenhosos para obrigar uma molécula a girar sempre para o mesmo lado quando submetida a um estímulo externo (normalmente, o movimento de moléculas é governado pelo acaso, com uma capaz de rodar podendo girar para qualquer lado em torno de seu eixo). — Mas claro que também temos que construir tudo mais ou menos do nada, pois muitos dos sistemas que a mãe natureza usa não podem ser usados na nossa nanomaquinaria, já que são materiais moles não muito estáveis que só funcionam apropriadamente no complexo ambiente celular etc. Compare isso com uma máquina voadora. Não construímos um Boeing a partir de um pombo. Um pombo voa perfeitamente. Já o Boeing não usa os mesmos materiais, os mesmos princípios para voar, mas também funciona perfeitamente para transportar 300, 400 pessoas de um lado a outro do oceano.


Especialistas na área e a Fundação Nobel esperam que o prêmio aos pioneiros da nanotecnologia reforce o desenvolvimento da área, que já tinha ganhado um grande ímpeto nos últimos anos. E, diante da perspectiva da futura criação de nanorrobôs autônomos, que poderiam então produzir várias cópias de si mesmos para, por exemplo, limpar um vazamento de óleo no oceano, até os laureados esperam que também surjam maneiras de manter estas máquinas moleculares sob controle.


Creio que temos que pensar sobre como lidar com estas coisas com segurança, mas não estou tão preocupado com isso — afirmou Feringa, para quem, assim mesmo, invenções nanotecnológicas deverão ser avaliadas do ponto de vista da segurança da mesma forma que se faz com novos agentes químicos ou biológicos. — Uma vez que sejamos capazes de desenhar esses tipos de micromáquinas e nanorrobôs, também deveremos ter a capacidade de inserir neles todos tipos de dispositivos de segurança. O potencial, no entanto, é infinito. Ainda estamos meio que na aurora dos dias (da nanotecnologia), mas uma vez que sejamos capazes de controlar movimentos, todo tipo de coisa é possível. Imagine pequenos robôs que o médico possa injetar na sua corrente sanguínea que partam para caçar uma célula cancerosa ou carregar uma droga, por exemplo.









 
 
 

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